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Blog da Catraia

que, na realidade, agora são duas... Uma Catraia minhota de coração, lisboeta por obrigação, juntou-se à primeira, nortenha de berço e coração para, juntas - YUPI! - partilharem um blog:)

Blog da Catraia

que, na realidade, agora são duas... Uma Catraia minhota de coração, lisboeta por obrigação, juntou-se à primeira, nortenha de berço e coração para, juntas - YUPI! - partilharem um blog:)

Quando um Prémio Nobel nos obriga a escrever sobre ele.

Eu sei que andamos muito sossegadas por aqui, mas esperamos que o motivo compense a espera... De qualquer forma, quando vi a notícia de hoje sobre o Prémio Nobel da Literatura não podia deixar de escrever o que me vai na alma.

Todos temos coisas que nos marcam quando somos mais jovens, que nos fazem pensar, sonhar, que nos fazem apaixonar por alguma coisa e que vão fazer parte da nossa vida (ou vidas para quem acreditar nelas) para sempre. Para mim, um dos momentos mais marcantes foi ver este filme - Dangerous Minds - com a minha mãe, num daqueles momentos mãe e filha que permanecem até hoje na memória sensorial - o sofá, a manta nas pernas, o quentinho do mimo da mãe... 

E não, não foi o filme em si, mas, precisamente, o concurso "Dylan Thomas vs Bob Dylan", com a análise da poesia de ambos, a tentativa de perceber o que queriam dizer por detrás do que parece óbvio, os segundos e terceiros sentidos, e, sobretudo, a nossa capacidade de nos projectarmos no que lemos e de encontrar sentido nas palavras. 

 

Bob Dylan - Mr Tambourine Man

Copyright YouTube

 

Foi com este filme, e com um poema muito particular do Bob Dylan - Mr. Tambourine Man, que me apaixonei pela poesia, que passei a escrever, e que as palavras passaram a dar um verdadeiro sentido ao meu mundo. Vale a pena ler...

 

Hey, Mr. Tambourine Man, play a song for me
I'm not sleepy and there ain't no place I'm going to
Hey, Mr. Tambourine Man, play a song for me
In the jingle jangle morning I'll come following you
 
Though I know that evenings empire has returned into sand
Vanished from my hand
Left me blindly here to stand but still not sleeping
My weariness amazes me, I'm branded on my feet
I have no one to meet
And the ancient empty street's too dead for dreaming
 
Hey, Mr. Tambourine Man, play a song for me
I'm not sleepy and there ain't no place I'm going to
Hey, Mr. Tambourine Man, play a song for me
In the jingle jangle morning I'll come following you
 
Take me on a trip upon your magic swirling ship
My senses have been stripped
My hands can't feel to grip
My toes too numb to step
Wait only for my boot heels to be wandering
I'm ready to go anywhere, I'm ready for to fade
Into my own parade
Cast your dancing spell my way, I promise to go under it
 
Hey, Mr. Tambourine Man, play a song for me
I'm not sleepy and there ain't no place I'm going to
Hey, Mr. Tambourine Man, play a song for me
In the jingle jangle morning I'll come following you
 
Though you might hear laughing, spinning, swinging madly through the sun
It's not aimed at anyone
It's just escaping on the run
And but for the sky there are no fences facing
And if you hear vague traces of skipping reels of rhyme
To your tambourine in time
It's just a ragged clown behind
I wouldn't pay it any mind
It's just a shadow you're seeing that he's chasing
 
Hey, Mr. Tambourine Man, play a song for me
I'm not sleepy and there ain't no place I'm going to
Hey, Mr. Tambourine Man, play a song for me
In the jingle jangle morning I'll come following you
 
Take me disappearing through the smoke rings of my mind
Down the foggy ruins of time
Far past the frozen leaves
The haunted frightened trees
Out to the windy bench
Far from the twisted reach of crazy sorrow
Yes, to dance beneath the diamond sky
With one hand waving free
Silhouetted by the sea
Circled by the circus sands
With all memory and fate
Driven deep beneath the waves
Let me forget about today until tomorrow
 
Hey, Mr. Tambourine Man, play a song for me
I'm not sleepy and there ain't no place I'm going to
Hey, Mr. Tambourine Man, play a song for me
In the jingle jangle morning I'll come following you
 
Mr. Tambourine Man lyrics © Bob Dylan Music Co.

 

Por isso, sim, parabéns Bob Dylan, e obrigada! Porque só quem vive a palavra, esteja ela impressa em papel ou a dar sentido a uma música, percebe.

 

a Catraia nortenha

Alquimia

Hoje partilho mais um pedacinho de mim, inspirado naqueles que estão sozinhos, que vivem num silêncio que já não reconhecem como tal, apenas à espera que alguém pare, olhe para eles e sorria, como que abrindo caminho para se poderem expressar e contar as suas histórias. Pouco importa a veracidade do tempo ou do lugar em que se passaram, o que importa é terem alguém com quem partilhar.

 

copyright Ana Pinho

 copyright Ana Pinho

 

Alquimia

 

Olha-o, mas não espera nada.

O hábito do silêncio aniquilou-lhe o sentir.

Não se volta se o chamarem.

Esconde o rosto fragmentado com as marcas

[do tempo que ainda não passou.

Mas, quando numa alquimia de luz,

alguém se chega ao pé descalço, pode-se ouvir o

[riso azul contar pedaços de vida.

São as viagens que não fez.

 

Espero que vos tenha feito pensar, parar e sorrir a alguém que precise.

 

a Catraia nortenha

Voltar as voltas do tempo ao contrário. Coisas minhas (11)

A iniciar a semana, e com um pedido de desculpas pelas ausências prolongadas aqui no blog, partilho mais uma "coisa minha".

Quantas vezes acontecem coisas que parece que já sabíamos bem cá dentro, ou sentíamos lá no fundo, que poderiam acontecer e que nos fazem sofrer? Ou somos apanhados de surpresa porque o tempo (ou alguém) nos vira do avesso? E quantas vezes nos apetece mudar esse "destino" irritante que parece que anda a brincar com os dias? Tantas vezes...

Nessas vezes a resposta é (apenas) virar as voltas do tempo ao contrário. Dar luta. Encontrar dentro de nós os pequenos prazeres. Sorrir para alguém que nos faz rir. Abraçar um amigo, daqueles que nos seguram a alma. E viver. Nem que para isso seja necessário primeiro sobre(viver).

copyright Ana Pinho

copyright Ana Pinho

 

Antes de ser já era tarde.

O tempo não tardou a cair sobre nós.

Sentados na beira da janela,

os ponteiros procuram o sol que os perdeu.

Irrequietos, esperam o mapa do sentido.

Mas, num instante de sorriso,

voltamos as voltas do tempo ao contrário.

Ele cai. Ficamos nós.

 

a Catraia nortenha

Coisas minhas (o décimo)

Há muito tempo que não partilhava uma "coisa minha".

É engraçado como muitas vezes nos esquecemos que guardamos tudo cá dentro, o muito bom e o muito mau, e mesmo quando achamos que conseguimos guardar qualquer coisa numa gaveta empoeirada e esquecida, um pedaço de passado volta pelas palavras que o trazem à memória e o parecem reavivar. 

Não quero dizer com isto que o sentimento ainda seja o mesmo que era, mas o regresso faz-nos sempre reflectir e olhar para quem somos com outros olhos, agora mais experientes, mais maduros, mais serenos, e aprender.

 

Copyright Ana Pinho

 Copyright Ana Pinho

 

Sorri para a janela que lhe aprisiona a visão.

Está na mesma o banco de jardim

onde provou o riso directamente dos lábios.

Está na mesma o sol que lhe aquecia a pele

do ombro desnudado pelo arrastar da mão.

Só o tempo que faz andar os ponteiros do relógio não é o mesmo.

E o nós é agora tu e eu.

 

a Catraia nortenha

A minha cidade

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Porque esta é, cada vez mais, a minha cidade.

 

Aquela cidade que nos acolhe sem perguntar porquê.

A cidade onde as pessoas nos abraçam com o olhar mesmo nos dias mais cinzentos.

A cidade onde a autenticidade é lei e se diz o que se pensa, não o que se deve dizer.

A cidade onde se partilha o que se pode e o que não pode, porque há sempre lugar para mais um, e quem vier a seguir.

A cidade onde um palavrão é, tantas vezes, uma palavra amiga, para quem diz e quem recebe.

A cidade que não é um lugar, é mesmo um sentimento (obrigada Agustina Bessa Luís)!