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Blog da Catraia

que, na realidade, agora são duas... Uma Catraia minhota de coração, lisboeta por obrigação, juntou-se à primeira, nortenha de berço e coração para, juntas - YUPI! - partilharem um blog:)

Blog da Catraia

que, na realidade, agora são duas... Uma Catraia minhota de coração, lisboeta por obrigação, juntou-se à primeira, nortenha de berço e coração para, juntas - YUPI! - partilharem um blog:)

Alquimia

Hoje partilho mais um pedacinho de mim, inspirado naqueles que estão sozinhos, que vivem num silêncio que já não reconhecem como tal, apenas à espera que alguém pare, olhe para eles e sorria, como que abrindo caminho para se poderem expressar e contar as suas histórias. Pouco importa a veracidade do tempo ou do lugar em que se passaram, o que importa é terem alguém com quem partilhar.

 

copyright Ana Pinho

 copyright Ana Pinho

 

Alquimia

 

Olha-o, mas não espera nada.

O hábito do silêncio aniquilou-lhe o sentir.

Não se volta se o chamarem.

Esconde o rosto fragmentado com as marcas

[do tempo que ainda não passou.

Mas, quando numa alquimia de luz,

alguém se chega ao pé descalço, pode-se ouvir o

[riso azul contar pedaços de vida.

São as viagens que não fez.

 

Espero que vos tenha feito pensar, parar e sorrir a alguém que precise.

 

a Catraia nortenha

Voltar as voltas do tempo ao contrário. Coisas minhas (11)

A iniciar a semana, e com um pedido de desculpas pelas ausências prolongadas aqui no blog, partilho mais uma "coisa minha".

Quantas vezes acontecem coisas que parece que já sabíamos bem cá dentro, ou sentíamos lá no fundo, que poderiam acontecer e que nos fazem sofrer? Ou somos apanhados de surpresa porque o tempo (ou alguém) nos vira do avesso? E quantas vezes nos apetece mudar esse "destino" irritante que parece que anda a brincar com os dias? Tantas vezes...

Nessas vezes a resposta é (apenas) virar as voltas do tempo ao contrário. Dar luta. Encontrar dentro de nós os pequenos prazeres. Sorrir para alguém que nos faz rir. Abraçar um amigo, daqueles que nos seguram a alma. E viver. Nem que para isso seja necessário primeiro sobre(viver).

copyright Ana Pinho

copyright Ana Pinho

 

Antes de ser já era tarde.

O tempo não tardou a cair sobre nós.

Sentados na beira da janela,

os ponteiros procuram o sol que os perdeu.

Irrequietos, esperam o mapa do sentido.

Mas, num instante de sorriso,

voltamos as voltas do tempo ao contrário.

Ele cai. Ficamos nós.

 

a Catraia nortenha

Coisas minhas (o décimo)

Há muito tempo que não partilhava uma "coisa minha".

É engraçado como muitas vezes nos esquecemos que guardamos tudo cá dentro, o muito bom e o muito mau, e mesmo quando achamos que conseguimos guardar qualquer coisa numa gaveta empoeirada e esquecida, um pedaço de passado volta pelas palavras que o trazem à memória e o parecem reavivar. 

Não quero dizer com isto que o sentimento ainda seja o mesmo que era, mas o regresso faz-nos sempre reflectir e olhar para quem somos com outros olhos, agora mais experientes, mais maduros, mais serenos, e aprender.

 

Copyright Ana Pinho

 Copyright Ana Pinho

 

Sorri para a janela que lhe aprisiona a visão.

Está na mesma o banco de jardim

onde provou o riso directamente dos lábios.

Está na mesma o sol que lhe aquecia a pele

do ombro desnudado pelo arrastar da mão.

Só o tempo que faz andar os ponteiros do relógio não é o mesmo.

E o nós é agora tu e eu.

 

a Catraia nortenha

Coisas minhas (o inacabado)

Uma coisa minha que tem nome de inacabado, mas é final, e que foi inspirada na velhice. Naquela velhice que infelizmente ainda existe. A velhice marcada pela solidão no espaço, mas também, e sobretudo, pela solidão do coração, a solidão de quem já não tem família ou de quem a família (se é que se pode chamar assim nestes casos) abandonou. A velhice de quem espera a morte porque já não vê sentido em existir. A velhice que nenhum de nós quer ter.

 

Copyright Jo Farrell

 

Poema inacabado

 

A velha que segura nas mãos o peso da vida

que a empurra para o chão,

vive no sufoco do tempo que já passou.

A voz embarga as palavras que não saem.

As que diz, suga-lhes a vida deixando murmúrios.

A vida que a morte renegou, deixou-lhe o olhar

[vazio.

Ficaram as estórias que amassa e molda

[no caleidoscópio do tempo, quando ele não está lá.

 

Coisas minhas (o sétimo)

Hoje partilho mais uma "coisa minha".

Este poema é aquele que, para mim, melhor retrata o meu processo de escrita, o parar para sentir, para recordar, para deixar que aquilo que guardamos tão enterrado numa gaveta algures saia cá para fora. É o meu processo. A minha forma de (re)viver os momentos e de fazer as pazes com eles.

 

Não sei escrever no

tempo inerte que larga

risos sorrisos incautos

descalços de dor.

Parece que as mãos

maduras só riscam os

traços largados do sentir

quando o passado repousa esmorecido.

Calço-me então de lágrimas.

Estóica, espalho a mágoa cá dentro, e

correm as letras despegadas

a juntar-se em palavras.

 

Espero que vos tenha inspirado... 

E uma boa notícia... já é terça-feira!